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03/09/2011 - 21h59
Autores pedem mudança nos critérios de seleção de livros didáticos para a escola pública
Folha.com em Uol Educação
DA AGÊNCIA BRASIL

Os autores de livros didáticos enviaram ao MEC (Ministério da Educação) uma carta sugerindo mudanças nos critérios de seleção das obras que fazem parte do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático).

Com base em pareceres que excluíram alguns livros do programa, eles questionam algumas regras do processo e pedem mais objetividade nos critérios de escolha.
O PNLD distribui livros didáticos de todas as disciplinas aos alunos de escolas públicas de 98% dos municípios brasileiros. Para 2012, foi realizada a maior compra desde o início do programa: 162,4 milhões de exemplares ao custo de R$ 1,1 bilhão. O governo é hoje o maior comprador de livros no país e ter uma obra excluída do programa traz prejuízos à carreira de um autor.

A Abrale (Associação Brasileira dos Autores dos Livros Educativos) questiona, principalmente, o fato de algumas obras que foram aprovadas em edições anteriores terem sido reprovadas na seleção para 2012. Na carta enviada ao ministro Fernando Haddad, constam pareceres divergentes de uma mesma obra, sem que, no período, houvesse mudanças nos critérios de aprovação.

Os livros são avaliados por comissões formadas nas universidades federais. As editoras entregam o material descaracterizado, para que o avaliador não saiba quem são os autores. Os especialistas determinam se as obras podem ou não fazer parte do programa a partir de critérios como a adequação ao currículo.

Outros aspectos são levados em consideração. Por exemplo, livros que incentivem o preconceito ou discriminação a um público específico devem ser excluídos. Em seguida, as escolas recebem um guia do livro didático com os títulos disponíveis e escolhem as obras que querem receber.
"Ao longo dos 15 anos de existência do programa, [eles] aumentaram o número de critérios pedagógicos que dão margem à subjetividade. Queremos que eles [critérios] sejam poucos, transparentes e amplamente discutidos. A objetividade absoluta é impossível de ser alcançada, mas é preciso criar mecanismos para diminuir a subjetividade ao máximo", defende o presidente da Abrale, José de Nicola Neto.

Segundo ele, obras que foram aprovadas no PNLD de 2009 e estão em uso nas escolas foram "simplesmente esculhambadas" na avaliação para 2012.

Outro ponto que a entidade questiona é o anonimato dos avaliadores, que só são conhecidos ao final do processo. Segundo o MEC, esse procedimento é feito para evitar eles sejam assediados pelas editoras para favorecer alguma obra específica. Mas, para a Abrale, ele deixa o processo menos transparente.

O ministério informou que os questionamentos feitos em relação a pareceres específicos estão sendo apurados pela Secretaria de Educação Básica nas comissões das universidades. A Abrale diz que não recebeu nenhuma resposta sobre as mudanças propostas.
Nicola defende que o PNLD é "a política mais importante que já foi feita na educação", mas pede que seja composta uma comissão para "avaliar a avaliação", com a participação dos professores que recebem as obras e os autores dos livros.
"Livro comprado com dinheiro público, assim como qualquer outro material, tem que passar por critérios. Nós somos a favor da avaliação, tanto que queremos a avaliação da avaliação e o governo não quer isso. O PNLD é composto por três partes que precisam sempre estar na mesa discutindo: o MEC, as comissões de avaliação e as editoras com os autores", diz.

Para o PNLD 2012, foram adquiridos 2.108 títulos para alunos dos ensinos fundamental e médio. Vinte e quatro editoras tiveram obras selecionadas. A Editora Ática será a maior fornecedora, com 33 mil exemplares, ao custo de R$ 194 milhões. Em seguida, aparecem as editoras Saraiva, que receberá R$ 205 milhões por 30,8 mil exemplares, e a Moderna, com 30,6 mil publicações ao custo de R$ 220 milhões. As menores fornecedoras são as editoras Fapi e Aymará, com 5 mil e 1,4 mil exemplares, respectivamente.

Jornal O Vale
www.ovale.com.br
Abril 24, 2011 

Idesp reprova ensino público em 16 municípios da região

SAIDA DE ALUNOS DA ESCOLA ESTADUAL CEL. EDUARDO JOSÉ DE CAMARGO EM PARAIBUNA
Flavio Pereira
Teste mostra que cidades do Vale estão longe de padrão ideal; Estado admite necessidade de revisão de metodologias
Filipe Manoukian
São José dos Campos

Prestes a ingressar na faculdade, adolescentes de 16 das 39 cidades do Vale do Paraíba mostraram desempenho no ano passado considerado “insuficiente” pelo próprio governo, segundo avaliação do Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo) de 2010. 
A lista é encabeçada por Lavrinhas, que, numa escala de 0 a 10, apresentou nota de 1,01, segundo o índice. Cachoeira Paulista, Paraibuna, Ubatuba, Ilhabela, Guaratinguetá e Cruzeiro são algumas das outras cidades da região que apresentaram índices abaixo, inclusive, da média do Estado, que foi de 1,81.


O padrão ideal, defendido até pelo governo estadual, é que as escolas atinjam média 7 no Idesp, índice praticado em países desenvolvidos, como Finlândia e no Reino Unido, por exemplo.

O Idesp combina resultados de avaliações de matemática e língua portuguesa aplicadas aos alunos durante o ano e dados de aprovação, reprovação ou abandono, para avaliar a qualidade do ensino público na rede estadual paulista. Nas outros 23 municípios da região que não ficaram abaixo da média do Estado, os resultados também não impressionam (leia texto nesta página).

Justificativa


O secretário de Educação do Estado, Herman Voorwald, em nota, afirmou que técnicos da pasta estão analisando os baixos índices obtidos. No entanto, ele afirmou que “não há como dissociar o recuo desses indicadores de desempenho da necessidade de mais professores efetivos para a rede estadual de ensino, uma vez que a rotatividade de docentes prejudica o aprendizado dos alunos”.


Ele disse ainda que “pouco depois de nomear cerca de 9.300 professores logo no início desta gestão, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) autorizou a contratação de mais 25 mil docentes”.

Aprovação


Para combater os índices baixos, o secretário defende uma revisão no modelo de progressão continuada, mas não sua extinção, como defendem alguns especialistas em educação. Hoje, estudantes só são reprovados ao final de dois ciclos do ensino fundamental, o que colaboraria para o déficit de aprendizado apresentado no ensino médio. A ideia de Voorwald é ampliar o número de ciclos de reprovação aos alunos.


No que diz respeito ao ensino fundamental, o Idesp do ano passado apontou números ainda mais preocupantes --18 cidades da região ficaram abaixo da média estadual.

Nove cidades (Lavrinhas, Cachoeira Paulista, Paraibuna, Cruzeiro, Guará, Natividade da Serra, Piquete, Ubatuba e Redenção da Serra) registraram índices ruins, abaixo da média do Estado, tanto no ensino fundamental, como no médio.

Avaliação

Para o professor da Unitau (Universidade de Taubaté) Mauro Castilho Gonçalves, especialista em educação, os números ruins da região se devem à falta de organização do currículo do ensino médio. “Existe uma clássica e histórica indefinição do ensino médio no Brasil. Não se sabe se ele dá uma formação geral ou técnica ao aluno”, disse. Para o especialista, o resultado do Idesp devem ser avaliado como prioridade no planejamento de políticas públicas. “Os índices são preocupantes”, afirmou o professor.
PIORES CIDADES
Lavrinhas: 1,01
Cachoeria Paulista: 1,20
Areias: 1,21
Canas: 1,29
Bananal: 1,38
Potim: 1,44
São J. do Barreiro: 1,53
Paraibuna: 1,54
Ubatuba: 1,55
Ilhabela: 1,55
Piquete: 1,57
Campos do Jordão: 1,64
Guaratinguetá: 1,69
Cruzeiro: 1,72
Redenção da Serra: 1,75
Nat. da Serra: 1,80
 
Cidades se destacam no Ensino Fundamental 
São Bento do Sapucaí, São Luís do Paraitinga e Caraguatatuba foram as cidades que conquistaram os melhores resultados na avaliação do Idesp de 2010 na região.


São Bento, cidade com pouco mais de 10 mil habitantes, fez a melhor média no ensino fundamental, com 2,98. A média do Estado foi de 2,52 neste caso. Caraguá, com 100 mil habitantes, também obteve índice de 2,98. No ensino médio, o melhor município da região foi São Luís do Paraitinga (também 10 mil moradores), com 2,52. São Bento vem logo atrás, com média de 2,41 no Idesp.

Ideal


Entretanto, mesmo os resultados das três cidades estão longe do nível considerado como ideal. A Secretaria de Educação do Estado propôs como meta, em um período de 20 anos, para que todas as cidades de São Paulo cheguem aos índices praticados na Finlândia e no Reino Unido.


Queda
De 2009 para 2010, porém, houve redução nos números da avaliação. No ensino fundamental, o Idesp recuou de 2,84 em 2009 para 2,52 ano passado e no ensino médio o recuo foi de 1,98 para 1,81. 




Ensino médio afasta aluno da escola
Etapa foca apenas no preparo para o vestibular, mas não prepara jovens "para o mundo", segundo educadores e estudantes
Cinthia Rodrigues, iG São Paulo | 22/02/2011 07:00

Até a 8ª série, Evelyn Manuel Rodrigues era a típica boa aluna, com caderno caprichado, gosto pelos estudos e notas acima da média. Na 1ª série do ensino médio, seu rendimento caiu, faltou várias vezes às aulas, chegou atrasada tantas outras, acabou reprovada e desistiu de estudar. Longe de ser uma exceção, ela entrou para um grupo que consiste na metade dos estudantes desta etapa de ensino: os que desistem antes de terminá-la. A escola não consegue manter o interesse dos adolescentes.

A falta de atratividade é tema da segunda reportagem da série do iG Educação sobre o ensino médio. Além dos alunos que deixam de estudar nesta fase, muitos dos que ficam não demonstram vontade de aprender, o que contribui diretamente para torná-la a pior etapa da educação brasileira.
Foto: Amana Salles/Fotoarena
Para especialistas, ensino médio com o currículo atual é inútil para a maioria dos estudantes



“O ensino médio, como está, é algo inútil na vida da maioria dos jovens”, afirma Elizabeth Balbachevsky, livre docente do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora participante de grupos internacionais na área de educação para jovens. Para ela, a orientação para o vestibular, objetivo de quase todas as escolas desta etapa, é um desperdício.
 “Para quem não está na perspectiva de entrar na faculdade, a sala de aula não tem nada a oferecer. O ensino brasileiro tem uma carga muito forte, toda preparatória para o acesso à universidade e não para a vida ou o curso superior em si”, comenta. O problema é que a maioria não vai prestar o tão esperado processo seletivo, principalmente antes de experimentar primeiro o mercado de trabalho: só 15% dos jovens brasileiros de até 29 anos fizeram ou estão fazendo um curso superior. Nos países mais desenvolvidos esta porcentagem dobra, mas ainda fica muito longe de ser maioria.
O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, concorda que o foco do ensino médio precisa ser ajustado. “No mundo todo, a fase tem um caráter terminativo. Dali para frente a pessoa está preparada para começar a vida adulta, pode até ser na faculdade, para quem quer, mas também pode ser trabalhando ou em qualquer projeto. A educação básica está concluída”, diz.
Foto: Amana Salles/FotoarenaAmpliar
Para Ayrton Souza, única função do ensino médio é preparar para o vestibular



Hoje aos 19 anos, Evelyn Rodrigues, a jovem que abre esta reportagem, percebeu a falta que lhe faz os estudos. Nos três anos em que ficou longe da sala de aula, trabalhou como tosadora de cães, foi morar com o namorado e ficou grávida. “Nesta época, eu queria trabalhar. Quando arrumei um emprego, achei que estava aprendendo mais lá do que na escola. A aula parecia não ter muito a ver com minha vida. Agora sei que era fundamental para melhorá-la.”
“Acho que a escola podia dar um curso”
Os alunos do ensino médio reconhecem o objetivo pré-vestibular da escola. Ao ser questionado sobre para que serve essa fase, Ayrton Senna da Silva Souza, de 16 anos, estudante do 3º ano na escola estadual José Monteiro Boanova, no Alto da Lapa, área nobre de São Paulo, resume a função em uma frase: “Para mim, esta é a etapa que vai mostrar quem está pronto para entrar na faculdade”, disse.

Foto: Amana Salles/FotoarenaAmpliar
Recém-formado, Carlos Educardo Dias acha que a escola podia ter oferecido "cursos" que ajudassem na busca do emprego


Quando a pergunta é o que gostariam que a escola oferecesse, a resposta muda. “Um curso”, responde Carlos Eduardo Dias, de 18 anos, que se formou na mesma unidade em dezembro. Ele espera fazer curso superior um dia, quando souber melhor em que área quer se especializar e tiver dinheiro para pagar a mensalidade. Enquanto isso, trabalha como auxiliar em uma concessionária de veículos. “Tive sorte de ser indicado, mas acho que a escola podia dar um curso que ajudasse mais, de informática, de vendas, algo assim.”
Outra colega do 3º ano, Eliza Rock da Silva, de 17 anos, mesmo tendo a universidade como meta, gostaria de ter mais autonomia e um ambiente melhor para aprender. “Acho que se os alunos tivessem o direito de escolher parte do curso, diminuiria o desrespeito pelos professores e, quem tem interesse, conseguiria estudar. Eu gostaria.”
A superintendente do Instituto Unibanco, Wanda Engel, sugere, além de conteúdos voltados ao mercado de trabalho, mais atividades culturais e esportivas. Ela lembra que até pouco mais de uma década, o ensino médio era uma "festa" para os jovens que tinham acesso a ele. Os alunos se envolviam em grêmios estudantis, festivais culturais, competições esportivas e outras atividades que desapareceram da maioria das instituições. Para a educadora, só há dois motivos capazes de manter os jovens na escola: “ou eles vão porque vale o esforço, vão aprender algo útil e conseguir emprego; ou porque há atrações que os envolvem”.
Foto: Amana Salles/FotoarenaAmpliar
Para Eliza, mais autonomia geraria respeito em sala de aula para interessados poderem estudar

Formação do ser humano
Nem só o mercado de trabalho precisa de jovens bem formados. O professor de Políticas Educacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e diretor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), Pablo Gentile, lembra que os jovens também são cidadãos, eleitores e ajudam a definir a cara da sociedade brasileira por gerações. "O ensino médio deveria se preocupar com a formação do ser humano", resume.
Ele entende que a adolescência é um momento de transformação da pessoa e, portanto, é essencial que bons valores sejam apresentados. "O ensino médio é uma oportunidade ímpar para que o jovem se depare com o conhecimento que vai torná-lo ativo e produtivo”, afirma.
Para ele, em vez de um conteúdo voltado ao vestibular ou ao mercado de trabalho imediato, as escolas deveriam focar nas disciplinas que ampliam o entendimento do mundo em que vivem, com noções de política, filosofia, sociologia, ciências, português e matemática. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tenta atrair a escola para esses focos, ao solicitar nas provas de acesso a boa parte das universidades públicas mais conhecimentos gerais e capacidade de raciocínio do que conteúdos específicos. “Um cidadão melhor se tornará, inclusive, bom profissional.”
Ainda esta semana:
Quarta-feira: O que significa a má qualidade indicada nos índices?
Quinta-feira: Falta o mínimo: professores qualificados
Sexta-feira: Iniciativas que podem mudar este quadro